sábado, 3 de dezembro de 2011

Quando conheci o Alegrete

Foi numa dessas minhas viajadas que adentrei no Rio Grande. Passando por Marcelino Ramos, terra onde surgiu o Edgar, cruzei em Gaurama, onde o hotel não aceita cartão de débito, segui a Erechim e Passo Fundo. Até ai, nada de mas, como dizem naquelas plagas, mas de Santa Maria Pra Frente a viagem me lembrou Minas Gerais, tudo é muito longe. Do coração do Rio Grande até a entrada de São Gabriel não existe sequer um posto de gasolina para o vivente descansar as pernas, mas indo de Rosário ao fim da tarde, como diz a melodia, fiquei naquela expectativa. Queria saber o que o poeta tentava me dizer de tão belo. Imaginei o por do sol, pois a mesma letra fala "de quem vem de Uruguaiana de manhã" mas entrei na cidade e nada. Por do sol normal, uma cidade antiga, paredes soltando reboco, muita sujeira, calçadas mal feitas, mas um povo admirável. Primeira tarefa foi procurar um hotel para pernoitar, qualquer hora conto como foi essa epopéia, e depois, como bom visitante, disse que gostaria de tomar uma "canha" como fazem todos os corajosos que se aventuram em terras novas. Perguntei onde fica o pior bolicho da cidade e qual foi minha surpresa que me contaram e me mostraram. Era uma bodega pela qual havia passado na frente e já tinha elevado ela na minha liga de votáveis. Devidamente preparado adentrei ao estabelecimento e por trás do balcão um vivente, mais pra lá que prá cá pediu o que eu desejava. Pra fazer uma média, declarei que havia ouvido comentário de que ali se encontrava a melhor cachaça do Rio Grande. Ele me perguntou se queria com alho. Olhando a prateleira, pedi se não tinha com butiá. De pronto ele me respondeu: "índio do céu, não é que os butiás deram muito pequenos esse ano". Olhei de soslaio na prateleira, analisei o teor de cada pote, isso mesmo, toda a cachaça estava armazenada em potes, e lasquei: "me dá com alho mesmo, mas me serve só um trago, pois não sou homem acostumado com essas extravagâncias". Não sei se ele não me entendeu, só sei que pegou um copo, daqueles enormes e passou a enche-lo. Como o bolicheiro já estava de beiço mole, achei mais prudente não contraria-lo. Ele me serviu e passou a contar que era pai de 15 filhos, que tinha mansão e coisa e tal,e que tudo saia do lucro do bolicho. Mas pelo que senti, se aquele buteco da lucro, eu sou milionário ou os filhos do sujeito estão morrendo a minguá. Dei um jeito de entornar a cachaça na calçada, paguei e sai de fininho, prometendo a mim que nunca mais vou dar uma de valente quando o assunto é cachaça. Depois disso, fiz o que devia e sai do Alegrete, seguindo o rumo do meu próprio coração e na estrada não encontrei nenhum ginete, nem ouvi toques de gaita e de violão. Vou tratar o "Canto Alegretense", a musica mais gravada do Rio Grande a partir de agora, como mais um daqueles contos de gabolice dos gaúchos. Vocês não precisam disso!

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