quarta-feira, 31 de maio de 2017

Condenado

Não sou cristão. Sou irmão, pai, mãe e filho. Não sou cristão, não participei da morte do profeta, que foi o Cristo, pois só foi Cristo por ser crucificado. Não clamei por Barabás livre. Hoje eu sou o Cristo, enquanto peço nas praças para libertarem o Jesus honesto, que se preocupa com o povo, vejo o Barabás livre, conduzido pelo voto do povo aos cofres da saúde, educação, segurança e moradia. No terceiro dia observo na ressurreição, o mesmo povo que me crucificou, chorando e clamando ao céu por um milagre que o liberte. Não sou cristão, mas acredito em milagre. O milagre da vida quando escolho um vereador pela sua capacidade, quando não escolho um prefeito pela amizade, um deputado por dez litros de gasolina, um senador porque alguém me pediu, um governador bonito ou um presidente que rouba, mas faz. Não sou cristão, sou Cristo, pregado na cruz da sonegação, chicoteado pela falta de leitos nos hospitais, espancado pelo desemprego, surrado pela falta de educação na minha casa e ensino nas escolas. Sou o Cristo que é roubado pelo colarinho branco, verde ou azul das autoridades engravatadas que elegi, mas posso me redemir no terceiro dia da próxima eleição, quando vou ter que escolher entre o diabo lindo e desonesto cheio de dinheiro, ou o Cristo correto que não vai me fazer favor, mas vai lutar por mim e me libertar de todos os crimes que cometi, elegendo ladrões, que agora podem ser definitivamente afastados, se eu acordar.

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