segunda-feira, 24 de maio de 2010

Os causos da nossa terra (A morte de Gabrielzinho)

Lentamente o pistoleiro ergueu a mão em direção ao leste. Estava postado na confluência da avenida Brasil com a Carlos de Carvalho, onde momentos antes um velho Jeep quatro portas encostava. Do Jeep descia o não menos pistoleiro Gabriel Cezemer, conhecido pela alcunha de "Gabrielzinho". Homem intrépido do oeste paranaense, posseiro que fez valer sua posse de terra em Bela Vista da Aparecida, graças a sua destreza e rapidez no manejo dos revólveres, dois 45 dos quais nunca se apartava.
Nesse dia, Gabrielzinho tinha trazido a esposa para consultar com Sandino Erasmo de Amorim, o melhor médico que já aportou por aqui e que teve uma briga feia com Jorge Pereira do Vale, na Farmácia onde morava com o também médico Luiz Carlos Lima, mas essa é outra história. Depois da consulta, a bula na mão, o agrimensor nas horas vagas dirigiu-se à Farmácia do Gilberto, na época um próspero vereador em Cascavel, que hoje empresta seu nome ao Centro Cultural onde outros fantasmas habitam. Ao desembarcar, ainda perguntou à Teresa se não era melhor levar as "crianças", maneira carinhosa de tratar seus reluzentes revólveres. Em tom desaprovador, Teresa ainda falou que ele deveria se apegar mais com Deus do que com as armas. Para não contrariar a mulher, Gabrielzinho tirou os dois canhões que carregava e os depositou sob o banco do Jeep azul, quatro portas e entrou na farmácia.
Era uma quarta-feira, o sol estava encoberto pela fumaça das queimadas, pois naquele tempo a única madeira que prestava por aqui eram os pinheiros. O restante, peroba, canela, marfim e outros ardiam sob o manto destruidor do fogo que abria espaço para um novo ciclo que se avizinhava, o ciclo da soja.
Gabriel comprou os remédios e voltou ao Jeep, entregou o pacote para Teresa e quando preparava-se para assumir a "boleia" ouviu o grito que veio do outro lado da rua e provavelmente foi o último que ouviu em vida: "Gabrielzinho?" Ao virar-se, sentiu a garra da morte aproximando-se do seu rosto. Ainda esboçou a reação natural de todo pistoleiro em buscar sua única forma de defesa conhecida, mas os revólveres não estavam à mão. Gabrielzinho viu o cano que apontava em sua direção e deste partiu o primeiro tiro que lhe atingiu o peito. Tombou sem vida na porta do Jeep que seria sua condução ao lar e jamais chegou a ver outros dois homens que vieram em sua direção no mesmo lado da rua. Armas à mão, os três pistoleiros se aproximaram e desferiram 48 disparos contra o "mais temível posseiro" que Cascavel já conheceu na região de Bela Vista da Aparecida. A quantidade de tiros já não era importante, pois o primeiro ja tinha conduzido o infeliz para outro plano. Antes desse dia, Gabriel Cezemer tinha conseguido escapar da morte tocaiada 13 vezes, mas como dizem, da morte ninguém escapa. O crime foi mais um dos tantos ocorridos na desbravação do Oeste, principalmente Cascavel e sua famosa avenida Brasil.

NO FIM SOU BRANCO

  Não tenho tempo para odiar A cor da pele não importa Amo sem preconceito Felicidade muda o mundo Só posso ser feliz amando. Te a...