sábado, 10 de julho de 2010

O canto do Ipê Foiiiiido...


O título parece estranho, mas aconteceu e ainda deve acontecer em alguma delegacia de polícia do Paraná, onde esteja lotado o delegado titular da façanha.
Esse relato aconteceu em Medianeira, nos idos de 1994, quando eu trabalhava na Gazeta do Paraná.
Era repórter da sucursal naquela cidade e um belo dia encontrei o "Gilbertão", ex-policial, hoje Bacharel em Direito e que estava lotado naquela cidade. Ao me encontrar, manifestou sua alegria e em seguida me estendeu o convite para uma janta que aconteceria na delegacia.
Lá pelas 19 horas fui chegando. Recebido pelo Gilbertão, fui apresentado ao doutor Luiz Kikuchi, delegado títular. Outros agentes e convidados estavam no local, esperando a hora da bóia.
Mas o que me chamou atenção era um sujeito magrinho, que descarregou de uma caminhonete umas 10 caixas. Tudo muito bem embalado e cuidado. Um equipamento de som espetacular, um violão maravilhoso. Quando ele começou a abrir as caixas fiquei impressionado. Delas afloravam centenas de livros de letras de músicas.
Chamei o Gilbertão e perguntei se aquele aparato todo era constante ou era uma apresentação especial de algum artista convidado. O policial então me explicou que o cidadão magrinho era na verdade o delegado titular de Matelândia e que também tinha sido convidado ao jantar. Disse ele ainda, que a maior alegria do delegado, que ainda deve estar na ativa, era cantar em festividades como aquela.
Comentei do aparato de som, do violão e das caixas cheias de cadernos musicais e o Gilberto me alertou: "Você vai ver quando ele começar a cantar. Se prepare!"
Fiquei observando o delegado ajeitar o som, arrumar o banco, preparar o cavalete para os cadernos, mexer na afinação do violão.
A cerimônia de preparação me fazia crer que naquela noite veria uma apresentação similar a do Roberto Carlos.
Imerso em seus afazeres musicais, o delegado continuava cuidando dos preparativos que demandaram umas duas horas.
Quando foi anunciado o jantar, por volta das 21 horas, o delegado se ajeitou no banco, pegou o violão e abriu o verbo. Da sua boca surgiu uma voz esganiçada, pior que taquara rachada e seus pulmões soltaram o clássico sertanejo das prisões, IPÊ FLORIDO, da dupla Liu e Leu, mais ou menos assim: "Meu ipê foiiiiiiidooooooo, junto à minha céia, hoje tem altuia, da mia janéia... Só uma difeiença, há em nóis agóia, aqui dento as noite, não tem mais auióia, quanta caidade tem você lá fóia...."
Confesso que descobri porque ninguém puxava conversa com o delegado. Apesar de ser um ótimo sujeito, ele torturava os ouvidos de quem estivesse por perto. Mas fazer o que, se esse era o sonho do delegado que acabou sendo transferido para Corbélia, onde permaneceu durante bom tempo.
Tomara que ele tenha parado de cantar.

PASSOS DE ANJOS

A noite longa e silenciosa permite ouvir passos leves de seres de branco Desfilam entre a vida e a morte todo o tempo. Durante o dia nem são...