quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um crime numa tarde de Carnaval


Era uma segunda-feira, dia 22 de fevereiro de 1993, véspera de carnaval. Em casa, o repórter preparava-se para iniciar seu trabalho noturno de visitas aos clubes para a costumeira cobertura carnavalesca. Era próximo das 21 horas quando um táxi para na rua Visconde de Guarapuava entre Belém e Manaus. Do veículo saltam dois homens e correm em direção a casa. Batem na porta com insistência e assim que a porta é aberta entram esbaforidos.
Os dois portavam reluzentes revólveres negros, calibre 38.
Um dos homens era conhecido. Vilson Branco, metalúrgico, menino tranquilo que não incomodava ninguém. Tinha voltado de uma viagem à região amazônica onde tinha "dado com os burros n'água" e fazia "bicos" para sustentar a mulher e os dois filhos.
O outro homem, apesar de forte, era ainda adolescente. Com 17 anos, Neri Souza estava entrando na senda do crime.
As mãos de Vilson ainda tinham o sangue da sua vítima.
Questionado sobre o que tinha acontecido, Vilson declarou: "fomos fazer um assalto, o cara reagiu. Matamos ele e a mulher, por favor, me esconda. O Neri está baleado, você precisa tirar a bala dele".
Com aparente calma, o repórter pediu para ver o ferimento. Neri tinha levado um tiro nas costas. A bala entrou na altura do rim e se alojou perto da coluna. Para retirá-la seria necessária a intervenção de um cirurgião. O repórter tentou argumentar: "Vilson, vocês precisam se entregar, não dá pra pegar uma faca e tirar essa bala, isso pode causar uma lesão ainda maior!". Descontrolado, o criminoso largou as armas sobre a mesa e implorou: "Pelo amor de Deus, me esconda, a Polícia vai me matar. A mulher estava grávida". O repórter argumentou mais uma vez: "Se vocês não vão se entregar, precisam se esconder em outro local. A Polícia vai estar aqui logo, é só uma questão de tempo". Então Vilson falou: "Está bem, vamos chamar um táxi e fugir".
Enquanto Neri ficava na casa, correu ao telefone público e chamou um carro de praça. Nesse momento, o repórter voltou a ficar preocupado, desta feita com a vida do taxista que também poderia ser assassinado. Com calma, perguntou aonde eles iriam e Vilson disse não saber. Perguntou se Neri dirigia e a resposta trouxe um pouco mais de calma ao jornalista. O jovem criminoso não dominava o volante e Vilson também era incapaz de fazer um carro funcionar.
Assim que o carro encostou, os dois sumiram na noite e o repórter começou a sua prória investigação. Rapidamente soube que os dois tinham efetuado um assalto num supermercado na região oeste de Cascavel. Na ofensiva criminosa enfrentaram a reação do proprietário que pegou um revólver de fabricação argentina que repousava numa gaveta ao lado do caixa. O artefato era tão ruim que o tiro disparado por ele somente se alojou nas costas de Neri. Se fosse uma arma de qualidade, certamente ele hoje estaria criando o filho. Neri reagiu e efetuou um disparo certeiro. O homem tombou morto. A mulher entrou em desespero. Grávida de 8 meses, começou a gritar e foi atingida por um tiro disparado por Vilson. O tiro atingiu-lhe a perna. Enquanto ela caía, os dois homens fugiam levando o dinheiro do caixa. Exatos R$ 28 em moeda corrente. Esse foi o preço da vida do proprietário do Supermercado Sereia.

A seguir: Os fantasmas do Centro Cultural Gilberto Mayer

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